sábado, 19 de fevereiro de 2011

A FLECHA DO ÍNDIO


- Não faz isso! Por favor! Vai doer!

Gritei pro meu irmão e saí correndo, descalça no quintal de terra!
Senti um desespero tão grande dentro de mim, que não sei explicar!

A cena que se passava fazia parte de uma brincadeira de índio...
Meu irmão estava correndo atrás de mim, com o objetivo de acertar-me uma flecha...
Havíamos ganhado de nosso pai um conjunto de arco e flecha de brincadeira, feitos por índios de verdade... O meu tinha penas cor Pink e o do meu irmão, amarela.

A flecha nem havia saído ainda do arco de meu pequeno rival e eu já gritava como louca, correndo freneticamente a ponto de minhas pegadas formarem grandes buracos no terreno arenoso... curvava minha coluna pra frente pra escapar da flechada e já até mesmo sentia o dor!

Isso mesmo! Eu estava sentindo dor antes de levar a flechada!

Tal fato provocou uma cascata de risos em minha mãe, que observava de longe os filhos brincarem...


Então ela fez uma observação que até hoje ricocheteia em minha mente:
- Filha, você está SOFRENDO POR ANTECIPAÇÃO!

É...
Sofrer por antecipação... ou sofrer com antecipação...
Quem nunca cometeu este erro, que atire a primeira pedra... Ou flecha!

No decorrer de minha vida, em vários momentos me vi sofrendo por antecipação...

“Bah! Será que vou passar no vestibular?”
“Meu Deus, o que vai acontecer quando eu me formar na faculdade? Será que vou conseguir emprego?”
“Eu cometi um sério erro aqui no trabalho, tentei consertar, mas será que meu chefe vai me demitir?”

Gente, vamos direto ao ponto: Sofrer por antecipação traz várias doenças, dá rugas (tu quer ficar velha antes do tempo, quer?) e deixa você com cara de triste... e tristeza afasta as pessoas... sendo assim, ainda te faz ficar só...
Aí tu escolhes... É isso que tu queres pra ti?

Eu percebi também que o que faz o “sofrer por antecipação” é o cultivo de pensamentos pessimistas...
E notei também que as coisas que pensamos realmente acontecem...
Não por um passe de mágica ou poderes do além...
Mas porque são nossos pensamentos que geram nossas emoções e nossas atitudes...
Dessa maneira, se cultivarmos pensamentos negativos, inconscientemente teremos atitudes que levarão à concretização de nossos pensamentos, além do que as emoções geradas por pensamentos ruins normalmente também seguem o mesmo rumo...
E todos já sabemos quais os resultados obtidos por decisões tomadas em momentos de emoções em ebulição...

Quer ver como é verdade?

Marido e mulher estão brigados e sem se falar...
O motivo não importa... Nem quem está certo ou errado...
O fato é que estão brigados e sem se falar.
Ela fica o tempo todo imaginando que a qualquer momento ele vai pedir o divórcio... Então ela pensa: será que não sou mais mulher o suficiente para ele?
E começa a sentir coisas ruins... Seu orgulho e ego começam a ficar feridos... Milhões de pensamentos passam por sua mente... Suas emoções começam a ferver... Ela chora baixinho, escondida... Sente um dor forte no peito... E por fim conclui que se ela não é suficiente pra ele, o melhor é que se divorciem mesmo... Então, cria coragem, chama o marido e pede o divórcio!

Pronto! Ela conseguiu o divórcio que talvez nem tivesse passado pela cabeça do esposo...
Isso acontece sempre em nossa vida... E o pior é que na maioria das vezes nem nos damos conta...
Olhamos ao redor e vemos tudo errado! Está tudo errado! E nem sabemos o por quë...
São nestes momentos que precisamos parar... Sim! Parar tudo e fazer uma louca viagem interior...
Buscar o autoconhecimento...
E ao vasculhar nossa mente, analisar os tipos de pensamentos que temos cultivado...
Se descobrirmos que não são pensamentos positivos, e portanto inadequados, precisamos mudar...
É mais uma vez questão de decisão...
Tudo em todo tempo envolve decisões...

Portanto, se quer dar certo na vida, comece hoje a mentalizar as coisas dando certo...
Planeje aonde quer chegar, mesmo sem saber como.
Ouse sonhar alto!
Isso mesmo! Sonhe bem alto, pois você pode chegar lá!
Desprenda-se das âncoras do passado: aquelas coisas que já fez e se arrependeu (pois Deus te perdoa se voce quiser), aquelas coisas que lhe disseram que negativas, aquelas decisoes erradas que tomou... Sempre há tempo para recomeçar... Não importa quantas vezes já deu errado pra ti... Não importa quantas vezes já tentou e não conseguiu... Não importa se o tempo certo já passou? Quem sabe qual é o tempo certo de verdade?...
Tudo o que nós passamos nesta vida serve de aprendizado... Se até agora não deu certo algo que tentou, não deixe de ousar se seu coração ainda o incomoda pra isso...
Não olhe para as dificuldades...
Tenha um componente chamado fé!
Experimente dar um passo!
E perceba que se o Mar Vermelho não se abrir ante sua face, Deus fará com que caminhe sobre as águas...
Acredite, pois isto é verdade!
Queira experimentar por si mesma (o)!

Como já mencionado, não significa que sua mente vai atrair coisas boas, mas sim que bons pensamentos vão gerar bons comportamentos... E então serão obtidos bons resultados.

“O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más.” (Mateus 12:35).

Sendo assim, a receita de hoje é: pense coisas boas, sonhe alto e conte com Deus pra fazer as mudanças necessárias... O resultado disso será a vitória que todos almejamos...


E deixe pra sentir dor apenas quando (e se) a flecha alcançar suas costas!



DENTE-DE-LEÃO


Quando eu era menina morava em Curitiba, no Paraná...
Lembro-me que morava em um apartamento...
Pra mim era uma festa quando minha mãe pegava em minha pequenina mão, segurava-me pra eu não rolar escada abaixo em minha pressa infante e descia comigo pra passearmos no campo ou brincarmos no playground...
Em um desses passeios, descobri algo interessantíssimo: um dente-de-leão!
Eu peguei aquela coisa plumosa que brotava do chão, corri e mostrei pra mamãe...
Ela disse: “Assopra pra você ver o que acontece.”.
Soprei...
Vi a pequenina flor se desfazer entre meus dedos e muitos pequenos dentes-de-leão se espalharem pelo ar, rumo ao céu azul...
Foi uma experiência única pra’quela criança de três anos...
Hoje já sou uma “criança crescida” e vejo que ainda assopro alguns dentes-de-leão em minha vida...
Comparo as partículas que se desprendem e sobem, sobem, sobem, à pensamentos que eu escolho cultivar e que me fazem subir, subir, subir...
Eu escolho quais pensamentos cultivar assim como escolho assoprar o dente-de-leão...
Mas percebo também que se o vento parar de soprar as partículas voltam ao chão...
Tenho que manter a chama acesa, o vento soprando... pra continuar subindo...
E não cair nunca...
O céu azul...
Tenho que manter a visão nele...
Foco. Alvo. Objetivo.
Eu comparo a luta por nossos pensamentos como dois vendedores, cada um querendo vender seu produto...
E todas as manhãs nós acordamos e ouvimos as duas ofertas...
Um oferece um produto que se comprado, pode acabar com nosso dia...
Enquanto o outro oferece um produto que nos fará felizes, resultando em um dia leve, tranqüilo, mesmo que estejamos atrasados pra aula ou trabalho, mesmo que peguemos um trânsito horrível, mesmo que tenhamos uma prova marcada na faculdade para a qual não tivemos tempo de estudar, mesmo que ainda não sejamos quem queremos ser...
Mesmo que AINDA não sejamos quem QUEREMOS ser...
O detalhe nisso tudo é que normalmente o vendedor do mau produto costuma passear pelas ruas de nossa mente com carro de som, alarmando tudo que estiver por perto... E ele não brinca em serviço... Bota o som no volume máximo, pra tentar fazer com que o concorrente não tenha chances...
No entanto o concorrente EXISTE...
Ele está ali... E também está trabalhando arduamente...
Mas não tem outro carro de som pra que ele possa anunciar seu produto através de nossas sinapses neuronais...
Sendo assim, precisamos retirar o equipamento de um e entregá-lo ao outro se quisermos ouvir claramente a boa oferta...
É tudo uma questão de escolha diária, logo de manhã, antes mesmo de abrir os olhos...
É no momento em que se dá conta que se está acordado que a escolha deve ser feita...
A escolha hoje é sua...
Decida pela boa oferta e seja feliz...
Escutar a boa oferta é levantar-se, olhar no espelho e sorrir pra si mesmo, pois o primeiro sorriso do dia que você vê tem de ser o seu mesmo... Mas de um sorriso escancarado, que de tão exagerado e forçado lhe faça rir de verdade...
Comece o dia com um sorriso que venha da alma...
Sinta em seu corpo emocional, em seu corpo espiritual e em seu corpo físico todas as sensações singelas, porém indescritivelmente maravilhosas advindas dessa simples atitude...
Depois, continue em frente ao espelho e diga: “Meu Deus, que gata (o) o Senhor criou!”. “Que pessoa inteligente e bonita... olha que cor maravilhosa que meus olhos tem!”... Repare em pequenos detalhes de seu corpo que admira e se atenha a eles por alguns minutos... Repare em coisas boas que existem em seu caráter e personalidade e se atenha a eles por alguns minutos...
Não importa a correria do dia, tire este tempo pra você mesmo...
E sinta a diferença de criar este hábito...
Agradeça a Deus por todas as bênçãos...
E então, recomece a rotina diária revigorada (o)...
Escutar a boa oferta significa chutar pro lado as pedras do caminho: aquele “amigo” negativo, que reclama da vida o tempo todo e que, a despeito de seus esforços para fazerem-no ver que há coisas boas, ele insiste em permanecer no fundo do poço... e mais: ainda quer carregá-lo pra cavar mais um pouco e ambos continuarem a cair...
 Aquelas pessoas que falam que você não vai conseguir, que você não é capaz...
Escutar a boa oferta também envolve saber resignificar  e elaborar planos de estratégia para as críticas que nos fazem e transformá-las em algo construtivo, algo que some para o nosso crescimento como seres humanos...
“Guria, tu és muito tímida, tem que falar mais! Tem que ser melhor em relacionamentos interpessoais... Tua profissão exige isso de ti... Hoje em dia as empresas contratam mais pessoas com boa capacidade de relacionamento do que com competência técnica!”.
Quem é tímido e já ouviu isso de um chefe sabe o quanto toca no fundo...
Mas pode ser resignificado... E pode haver, sim, um bom plano de estratégia:
“Eu não preciso ser a pessoa mais tagarela do mundo... mas como posso fazer pra melhorar? Vou dar mais ‘bom dia’ para as pessoas... sorrir ao cumprimentar alguém... parar para ouvir as conversas e delicadamente interagir...!”.
Pronto!
Isso pode ser aplicado para qualquer crítica e área da vida!
É um caminho longo, mas pode ser alcançado...
É necessário trabalho duro...
Tudo é conseguido com muito esforço... E assim sendo, é muito mais valorizado...
VOCE é uma pessoa responsável por si mesma...
E é maravilhoso, após a caminhada, olhar para trás e ver seu próprio crescimento...
Nunca devemos ser um copo cheio...
Nem um copo vazio...
Devemos ser sempre um copo pela metade: alguém com muito conhecimento, mas em quem sempre caiba algo mais, algo que some positivamente...

Você, “criança crescida”, precisa continuar a assoprar os dentes-de-leão e observar as partículas voarem pra cima...
E continue a assoprar... Pois elas não podem cair...
VOCE é responsável por não deixá-las cair...
Mas lembre-se: Não está só nessa longa jornada no campo com dentes-de-leão... Deus está ao seu lado, para motivá-lo, dar-lhe o alimento de que precisa para tornar-se forte e ter o fôlego de que necessita para continuar a assoprar!

Então siga...
E em suma, cultive pensamentos positivos e verdadeiros, resignifique as críticas, absorvendo apenas o que for útil para o seu crescimento, tire as pedras do caminho e jogue-as para muito longe, e formule planos de estratégia toda vez que se fizer preciso.
Por fim, sorria escancaradamente, nem que seja forçado, porque depois disso, o verdadeiro sorriso emergirá da alma, e trará a alegria tão desejada, de uma fonte tão simples!

Seja feliz!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um ponto Brilhante


Um dia eu estava a caminhar por uma caverna...
Ela era escura, fria e tinha, por sobre a areia que formava o sólido chão, uma camada fina de água que remetia meus pensamentos ao rio que outrora teria passado por ali...
Eu estava completamente só...
Uma bermuda na altura das coxas, uma blusinha de alça e os pés descalços...
O corpo todo preparado pra sentir todas as sensações proporcionadas pelo ambiente...
Eu estava amando tudo aquilo...
Ao longe ouvia o barulho de uma goteira lenta e solitária...
Queria imaginar de onde vinham as gotas...
Foi aí que minha aventura de exploração da caverna teve seu início...
Eu pisava forte na água e percebia que ela se esparramava em gotas pelo ar... e depois voltavam ao chão...
E quanto mais forte eu pisava, mas alto iam...
Então eu comecei a correr e sorrir...
Era muito divertido, apesar do frio...
As risadas tinham um eco engraçado, que me faziam sorrir ainda mais...
E mais ecos se formavam...
Virava um ciclo alucinante de risos reais e ecos de risos, misturados a gotas geladas de água e areia do chão...
Aquilo encheu minha alma numa sensação indescritível que me fez perder a noção do tempo, da idade...
E voltei a ser uma criança feliz...
Mas a "criança" desnorteada, feliz do nada, não viu uma pedra...
Uma pedra pequena, porém afiada...
E a água, anteriormente cristalina, começou a ficar avermelhada...
Então uma sensação diferente surgiu....
Dor...
E o que fazer com isso?
Dor é ruim...
Eu não gostei de sentir dor...
Mas não sabia o que fazer com meu pé que doía...
E sangrava...
Então eu pensei:
"É só um pé... e ele está doendo... acho que se tirar esse pé, o dor vai passar... será? Ou será que vai doer ainda mais?"...
Eu precisava tomar uma decisão...
Decisões...
Necessárias, porém nem sempre fáceis...
Era o meu pé que estava em jogo...
Então eu comecei a raciocinar...
Em segundos milhões de coisas passaram em minha mente:
A utilidade do meu pé - que servia pra me dar apoio, pra me fazer andar direito e até pra ser uma pessoa normal...
Será que eu conseguiria viver sem ele?
Por outro lado, o dor estava ali...
E eu tinha que fazer algo pra passar...
Percebi que se eu tentasse cortar meu pé, começaria a doer ainda mais...
Então olhei ao redor...
Não ouvi mais os risos, nem seus ecos que me faziam rir ainda mais...
Onde estão as gotas de água que saltavam cintilantes?
Será que tudo agora era dor?
Eu não podia deixar que fosse assim...
Percebi que quanto mais adiava minha decisão, mais aumentava o dor, e as coisas que eu antes fazia que me proporcionavam bem-estar, havia deixado de fazer...
Minha mente girou novamente...
Então, com a pedra que cortou meu pé, rasguei um pedaço da blusa e vi que a melhor saída era enfaixar o pé sangrante...
Unindo as bordas da ferida e fazendo um enfaixamento compressivo, vi que parava de sair sangue e o dor diminuía...
Esperei algumas horas pra depois conseguir voltar a andar... 
Olhei pra parede da caverna...
E senti vontade de tocá-la, cheirá-la...
Queria sentir sua textura, temperatura, cheiro até gosto...
Queria sentir tudo de bom que aquele lugar pudesse me proporcionar através de meu corpo, de meus sentidos...
Tudo era descoberta nova pra mim...
A parede estava fria, úmida, tinha musgos que conferiam uma textura meio aveludada...
Cheiro de musgo, terra... muito bom...
Mas o gosto era ruim...
Fez-me sentir repulsa...
Pensei em como podia algo que tem cheiro e textura agradáveis, ter um gosto ruim...
Gastei alguns minutos pensando nesta questão...
Por fim concluí que nem tudo o que parece bom vai trazer apenas coisas boas...
E assim como me vi obrigada a cuspir musgo da língua, entendi que na vida é necessário sempre ter uma rota de escape, um plano B para o caso de o plano A dar errado...
É como uma saída de emergência de um prédio... Ela existe apesar de ninguém ficar o tempo todo pensando nela...
E será usada, se necessário...
As minhas unhas estavam verdes de musgo...
Limpei-as nos braços...
Vi que eles ficaram coloridos de verde...
Achei aquilo hilário...
E descobri que posso fazer as coisas ruins ficarem boas...
Mas EU tenho que DECIDIR fazer isso...
Então minha jornada de descobertas continuou...
Eu já estava com o pé enfaixado, a blusa rasgada, um gosto ruim na boca, unhas encardidas e braços coloridos...
Eu estava feliz com minhas descobertas...
Mas algo começou a incomodar...
Quanto mais eu adentrava na caverna, mais fria parecia ficar...
E o que eu ia fazer?
Além de fria, escura...
Estava difícil enxergar...
Senti algo diferente, que chamei de MEDO...
Coisa estranha era aquela...
Começaram a sair de meus olhos gotas de água salgada...
E meu coração pesava...
Parei...
Simplesmente PAREI...
Então descobri que o medo trava...
Eu tinha medo, tanto de voltar quanto de prosseguir...
Raciocinei: estava sozinha, era muito escuro... era perigoso...
Mas... Que eu faria se não tivesse MEDO?
Prosseguiria, com certeza...
Prosseguiria porque tudo o que tinha ficado pra trás eu já conhecia...
Tinha descoberto tudo...
Eu queria arriscar algo melhor...
E achar outra saída daquela caverna...
E pensei no quão emocionante poderia ser o restante da minha viagem...
No escuro...
Dei o primeiro passo...
Os joelhos tremiam e meus olhos permaneciam fechados...
Andei por vários minutos assim...
Mas eu queria ver...
Afinal, tudo era novo agora...
Nem se quisesse poderia voltar...
Pois tomei a DECISÃO de seguir...
E algumas vezes decisões não tem volta...
Confesso que cair nesta realidade pesou...
Fiquei em dúvida se tinha tomado a decisão certa...
Minha cabeça girou à velocidade da luz...
O peso da dúvida era terrível demais...
Eu não estava suportando...
Pensei em Deus, em minha existência e porque Ele havia me permitido chegar até ali se eu estava sentindo aquele peso angustioso...
Novamente as lágrimas rolaram...
Então, em meio à minha turbulência interior (pois o exterior estava calmo e quieto como sempre fora) ouvi uma voz...
Mas era uma voz muito baixa...
Ou era a turbulência que estava muito alta?
Percebi que precisava silenciar...
Silenciar interiormente... Pra poder ouvir a voz...
Os soluços diminuíram...
Aquietei.
"Abre os olhos!"
Então era isso!
Era só isso que a voz estava me dizendo?
"Não vou abrir os olhos... abri-los pra que, se não vou enxergar?" - teimei...
Eu tinha mais uma decisão a fazer... Podia abrir os olhos ou permanecer com eles fechados...
Qual seria melhor?
Parecia algo tão simples, que me deu aquela vontade tipicamente humana de complicar...
Permanecer com os olhos fechados me deixaria eternamente na escuridão...
Ao passo que se abrisse quem sabe enxergaria algo que me desse algum tipo de prazer e paz?
ABRI!
O que era aquilo?
Um ponto brilhante!
Corri numa corrida desvairada...
Sem pensar em nada...
Apenas em alcançar meu objetivo...
Corri sentindo a água fria do chão pular em gotas cristalinas que refletiam a luz do ponto brilhante e formavam pequenos pontos luminosos...
Corri sentindo a areia fina entre meus dedos...
Arrastando a mão pela parede e sentindo a umidade, o frio e a textura...
Mas não quis parar pra sentir o gosto novamente, pois já sabia que era ruim...
Corri loucamente, mas sempre olhando pro chão, pra não encontrar uma pedra afiada indesejada...
Aquela corrida se tornou alucinante, fonte de muito prazer, pois sentir todas aquelas sensações ao mesmo tempo era indescritivelmente maravilhoso... 
Com a diferença de que agora eu tinha a maturidade de não lamber musgo da parede e não encravar pedras no pé...
Em fim o ponto brilhante aumentava e tornou-se uma passagem para o mundo exterior...
Que será que teria lá fora?
Dessa vez não hesitei...
Pois parecia bom...
E aprendi que postergar decisões traz sofrimentos...
Que mudanças são necessárias e normalmente trazem felicidade...
Que o medo trava a gente de fazer coisas maravilhosas...
Que posso transformar coisas ruins em boas...
E me livrar das ruins, cuspindo-as...
Que posso me machucar, mas que sempre haverá uma solução...
E que o plano B, a rota de escape, é necessário, mas que não posso ficar pensado nele o tempo todo...
Ele apenas precisa existir como forma de auto-proteção...

Então simplesmente passei pelo ponto brilhante, que já não era mais ponto, mas sim uma passagem...

O MUNDO EXTERIOR!

Era lindo... Mas o mais emocionante é que tinha gente...
Conversei com eles...
Contei a experiência lá dentro da caverna...
Disse das dificuldades e das coisas boas...
Motivei-os a passar pela caverna...
Alguns foram, mas decidiram passar pelas mesmas dificuldades que passei...
Outros foram, mas não se machucaram, pois decidiram aprender com meus erros...
E outros decidiram não arriscar...
Nada de mal lhes aconteceu, porém continuaram na mesma vida de sempre, fazendo sempre as mesmas coisas e tendo sempre os mesmos resultados...
Estes decidiram não arriscar, pois tinham medo de mudanças...
Alguns destes reorganizaram sua mente e abafaram a curiosidade de saber como seria bom passar pela caverna e todas as sensações maravilhosas que sentiriam em seu corpo... Pois tinham medo de mudar...
Outros dos que ficaram atormentaram-se com a curiosidade... E o tormento não passava... Mas decidiram ficar... Pois tinham medo de mudar... Poderiam desestabilizar sua vida se arriscassem... Largariam tudo pra entrar numa caverna?... E se fosse bom? Ficaram nesse dilema...
E ainda outros que também estavam nesse dilema resolveram ir pra caverna... Arriscaram e foram...

Esperei até que voltassem...

Todos voltaram sorrindo...

E aos que ficaram, pelo medo da mudança, restou ver a felicidade estampada no rosto dos que foram!